Mais de 100 ONGs denunciam 'fome em massa' em Gaza, e ONU fala em 'show de horrores'

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Crianças palestinas esperam por uma refeição em uma cozinha de caridade na área de Mawasi, em Khan Yunis, no sul da Faixa de Gaza, em 22 de julho de 2025
AFP
Mais de 100 ONGs alertaram nesta quarta-feira (23) que um cenário de “fome em massa” se propaga na Faixa de Gaza e exigiram um cessar-fogo imediato e a retirada de restrições à entrada de ajuda humanitária no território. Já a ONU fala em um cenário de “show de horrores” causado pela fome.
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O comunicado conjunto das ONGs ocorre em meio a um aumento nos últimos dias das denúncias sobre fome extrema e desnutrição em massa dos palestinos por conta da guerra entre Israel e o grupo terrorista Hamas em Gaza, que já dura 21 meses, e uma entrega de comida “a conta-gotas” criticada por dezenas de países.
Israel, que enfrenta crescente pressão internacional devido ao agravamento da crise humanitária em Gaza, nega as denúncias de fome extrema e diz que parte das denúncias são propaganda do Hamas. O governo israelense admitiu que pouca ajuda está chegando aos palestinos, porém culpou a ONU por isso.
A ajuda humanitária distribuída em Gaza é controlada por Israel e desde maio é realizada de forma exclusiva por uma controversa empresa dos EUA. “O sistema de ajuda humanitária liderada pela ONU (…) foi impedido de funcionar”, disseram as ONGs. Além disso, mais de mil palestinos que tentavam obter comida em pontos de distribuição de ajuda humanitária foram mortos por tiros israelenses desde o final de maio, segundo a ONU.
O secretário-geral ONU, António Guterres, afirmou que a situação em Gaza é um “show de horrores”, com a desnutrição disparando e a fome batendo à porta de cada casa palestina. “Estamos assistindo ao suspiro final de um sistema humanitário baseado em princípios humanitários”, afirmou Guterres ao Conselho de Segurança da ONU na terça-feira. A ONU também alertou nesta semana que os últimos meios de sobrevivência da população em Gaza estão colapsando.
No comunicado assinado por 111 organizações humanitárias —entre elas Médicos Sem Fronteiras, Mercy Corps e Norwegian Refugee Council— os grupos alertam que a fome em massa está se espalhando pelo território, mesmo com toneladas de alimentos, água potável, suprimentos médicos e outros itens parados do lado de fora de Gaza, impedidos de serem entregues por conta de um bloqueio israelense.
As ONGs signatárias do documento ressaltaram que seus próprios trabalhadores humanitários e médicos em Gaza estão começando a morrer de fome, algo que a ONU também relatou. Agências de notícias relatam que jornalistas reportando a situação no território também correm risco de morrer por conta da escassez de alimentos. Mais de 30 pessoas morreram de desnutrição em Gaza nas últimas 72 horas, segundo o Ministério da Saúde local, controlado pelo Hamas.
“Nossos colegas e aqueles a quem servimos estão morrendo lentamente. Enquanto o cerco do governo israelense causa fome entre a população da Faixa de Gaza, os trabalhadores humanitários se somam às mesmas filas para receber alimentos, correndo o risco de serem baleados apenas por tentarem alimentar suas famílias”, afirmaram as ONGs em comunicado.
As ONGs reiteraram pedidos por um cessar-fogo imediato no conflito, a abertura dos postos fronteiriços e o livre fluxo de ajuda humanitária por meio dos mecanismos da ONU, e não pela Fundação Humanitária de Gaza, considerada controversa por organismos internacionais. Israel afirma que a ajuda humanitária está entrando na Faixa de Gaza e acusa o Hamas de explorar o sofrimento dos civis.
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‘Esperança e dor’
A denúncia das organizações foi divulgada um dia após o enviado especial dos Estados Unidos, Steve Witkoff, anunciar uma viagem ao continente europeu esta semana para falar sobre Gaza, em uma missão que poderia levá-lo posteriormente ao Oriente Médio.
Witkoff viaja com “a firme esperança de alcançar um novo cessar-fogo, assim como um corredor humanitário para a entrega de ajuda que ambas as partes aceitaram de fato”, disse Tammy Bruce, porta-voz do Departamento de Estado.
As ONGs destacaram em seu comunicado que há toneladas de ajuda intocada, impedida de ser entregue estocada em armazéns localizados dentro e fora do território.
“Os palestinos estão presos em um ciclo de esperança e dor, aguardando assistência e tréguas (…) Não se trata apenas de um tormento físico, mas também psicológico. A sobrevivência se apresenta como uma miragem.”
O diretor do hospital Al Shifa, Mohamed Abu Salmiya, declarou na terça-feira que 21 crianças morreram vítimas de fome e desnutrição no território palestino nas 72 horas anteriores.
No hospital Naser, no sul de Gaza, imagens da AFP registraram pais chorando sobre o corpo esquelético do filho de 14 anos, que não resistiu à fome.
O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, condenou o “horror” em Gaza, onde, afirmou, se atingiu “um nível de morte e destruição sem precedentes na história recente”.
– Negociações estagnadas -Israel e Hamas participam desde 6 de julho em negociações indiretas em Doha para tentar acabar com quase dois anos de conflito.
Após mais de duas semanas de impasses e disputas, os esforços dos mediadores – Catar, Egito e Estados Unidos – não apresentam resultados.
Vinte e cinco países ocidentais exigiram esta semana o fim imediato da guerra, mas o Exército israelense anunciou uma nova ofensiva em uma área do centro de Gaza que era considerada até agora relativamente segura.
Segundo o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA), quase 88% do território agora está sob ordem de evacuação israelense ou incluído em uma zona militarizada israelense.
O conflito eclodiu em 7 de outubro de 2023 com o ataque do Hamas contra Israel, que resultou na morte de 1.219 pessoas, a maioria civis, segundo um levantamento da AFP baseado em dados oficiais.
A campanha militar israelense no território palestino matou mais de 59.100 palestinos, a maioria civis, segundo o Ministério da Saúde de Gaza, governado pelo Hamas.

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